Semana do Quadrinho Nacional
Desenhando esses dois mestres, eu me lembrei de uma época (não muito distante) quando os personagens dos quadrinhos eram reais. Eles tinham vida própria, família, sentimentos, pensamentos, e inclusive falavam. Assim como eu, eles passavam por problemas e tinham dúvidas e dilemas, mas também viviam aventuras em lugares onde eu jamais poderia ir e estavam com pessoas que eu também nunca poderia estar. Nessa época não existiam argumentistas, desenhistas ou letristas. Eu nunca pensava como o Pateta, os Metralhas ou o Cascão e o Astronauta iam parar nas páginas dos gibis. Quando eu abria aquelas folhas com cheiro de tinta gráfica (que pra mim era o aroma dos sonhos), eu simplesmente passava a viver outra vida como um espectador junto dos meus personagens favoritos. Mesmo antes de aprender a ler, eu já entendia detalhes da vida de alguns deles. Eu sabia que o Cascão não gostava de tomar banho e sabia que o Mickey gostava da Minnie. A Maga Patológica era uma pessoa má e o Penadinho, apesar de ser um fantasma, era gente fina. O Professor Pardal era o cara mais sortudo do mundo, porque ele podia inventar qualquer coisa e tinha o incrível Lampadinha como assistente, coisa que eu sempre quis ter. =)
Depois de um tempo, já “letrado” e também elucidado, eu descobri certas verdades ocultas sobre o fantástico mundo dos cartuns que eu tanto gostava. Primeiro foi que eu soube que todos esses personagens foram criados e desenhados por homens. Aaaaah, que desilusão! =( Depois que o meu mundo de fantasia foi descolorido, ele foi partido ao meio. Soube também da diferença que existia entre a Turma da Mônica e a Disneylândia. Uma turma era brasileira, a outra era americana, escrita em outra língua e depois traduzida para o português. Uau! Mouse não era o sobrenome do Mickey, significava “rato”. Depois de todas essas revelações, eu passei a criar critérios comparativos para analisar as características distinguíveis entre as duas obras. Eu percebi que gostava mais de ler a Turma da Mônica, porque as histórias eram mais bonitas (cores vivas, imagens limpas e figuras grandes) e os personagens se pareciam comigo, por outro lado as estórias da Disney “viajavam” mais na fantasia e apresentavam cenários mais criativos e elaborados, com elementos lúdicos ou focados na vida adulta de alguns personagens. Os dois foram de igual importância para satisfazer minhas necessidades de lazer.
Agora eu sou gente grande, e devo admitir que esse lazer nunca mais foi o mesmo. Me pego contando os quadros das páginas, avaliando fluência da narrativa, percebendo a mancha de tinta que “sangrou” para fora do quadro ou admirando - “Puxa! Esse arte-finalista é nota 10” - sem perceber o solitário Horácio desenhado lá dentro do quadrinho, talvez olhando pra mim e também me avaliando - “Esse leitor é nota ZERO”.
Ah, sim. A grande questão. Com qual gibi eu aprendi a ler? Disney, Mônica ou oquê? No meu caso foi Disney. Foi com um gibi de capa vermelha do Pato Donald que eu comecei a juntar as letrinhas e passei a entender ainda mais as tramas e assim, claro, gostar ainda mais de HQs.
E você? Qual foi? =)
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