Semana do Quadrinho Nacional
Anos atrás foi divulgada uma campanha publicitária com a citação de que a “geração X” foi a geração marcada com o “X” dos X-Men. Por que essa equipe de super-heróis foi tão marcante?
Ainda criança ou pré-adolescente eu deixei um pouco de lado os gibis infantis e conheci um povo chamado “marvetes”, um termo agora extinto para os leitores de HQs da editora Marvel Comics. Além da nomenclatura dos fãs, existia outra coisa esquisita no universo Marvel: o universo Marvel. Ao contrário da empresa concorrente, DC Comics que apresentava personagens esteticamente caracterizados como humanos, por exemplo: Batman, Super Homem e Mulher Maravilha, a Marvel oferecia um leque espantoso de seres “monstruosos” ou completamente mascarados como Hulk, Quarteto Fantástico, Namor e Homem-Aranha como seus personagens principais. Embora esses heróis tivessem grandes poderes e fossem incomuns por fora, também se diferenciavam dos adorados deuses intocáveis da DC por serem muito parecidos com pessoas comuns por dentro. Eles tinham evidentes fraquezas, problemas familiares, desvios de comportamento e inúmeras dificuldades sociais. E isso era o que mais atraia os fãs. Eu, por exemplo, não estava preocupado com o arqui-inimigo lilás de outra galáxia que viria para Terra atrás do Super Homem para resolver uma questão de vida ou morte, eu queria é saber se o Homem-Aranha conseguiria verba para pagar o aluguel atrasado e que piadinhas ele faria enquanto enfrentava os milhares de inimigos que o esperavam em cada esquina. Isso era diversão. =)
E outra: agora que eu não era mais inocente quanto a origem de uma HQ, eu sabia que por trás desses carismáticos personagens, existiam os criadores e os roteiristas que decidiam essas coisas. Logo, escolher o personagem pelo roteirista se tornou algo tão normal quanto escolher um filme na locadora pelo seu diretor. Foi nessa época que eu comecei a reparar no rodapé das páginas principais quando decidia que quadrinho eu leria. E foi também nessa fase que eu reparei um certo Chris Claremont que estava causando nas histórias dos X-Men.
Desde o começo, a criação dos mutantes pelo genial Stan Lee foi uma das maiores novidades nos quadrinhos de todos os tempos. Todas aquelas questões de preconceitos, conflitos, tentações e culpas que eles enfrentavam era um material que destoava de tudo o que existia no mercado, mesmo abordadas de forma sutil. Mas o Seu Chris deu mais peso aos roteiros e explorou bem o lado pessoal dos personagens e acho que agora vale a pena lembrar 3 títulos escritos por ele que marcaram um “X” na minha adolescência gibiqueira.
Graphic Novel #1 - O Conflito de uma raça
A história começava com duas crianças negras sendo perseguidas por um grupo de extermínio chamado Purificadores. Esses dois irmãozinhos (mutantes) foram encurralados, executados com tiros de revolver e pendurados nas correntes do balanço em um playground. O enredo era sobre a Cruzada Stryker, uma suposta entidade religiosa cujo líder, um reverendo, tinha como meta o extermínio dos mutantes. Eles sequestraram Dr. Xavier, o líder dos X-Men, e esses partiram para uma operação resgate. Religião, racismo, violência justificada por textos bíblicos, embates filosóficos morais entre os personagens. Até então eu nunca vira assuntos como esses nas páginas de uma HQ. Acho que foi a primeira vez que me senti adulto lendo gibi. =)
X-Men #45
Pra quem não conhece a X-Man Vampira, ela tem o incomum poder de sugar as memórias, força vital e poderes (caso os tenha) de todos os que a tocam. Tendo adquirido os poderes de uma outra heroína no passado, ela passou também a voar e ter superforça. Por outro lado, ela tem crises de identidade pois as suas memórias se misturam com as memórias de outras pessoas que ela “sugou” e sofre por não poder tocar ninguém, muito menos desenvolver um relacionamento amoroso. Interessante, né? Na história dessa edição ela e Wolverine desmaiam, vítimas de uma explosão e ambos acordam nus em uma base inimiga. Eles ficam furiosos e saem quebrando tudo, até que encontram um outro mutante que tem o poder de apagar temporariamente os poderes de quem se aproxima dele. Novamente Vampira é presa. Até aí tudo bem. A história prossegue em uma cena onde duas pessoas estão observando a heroína agachada e encolhida em posição fetal dentro de uma cela. Segue-se o diálogo: “Chefe, o que há de errado com essa garota”? A chefe responde: “... alguns dos meus oficiais a violentaram enquanto estava sendo processada...”. Eu me lembro que refleti um pouco sobre o que seria passar a vida toda desejando tocar alguém sem poder, e quando enfim é possível sentir um outro ser humano, ela experimenta o pior da humanidade. E essa foi a primeira vez que eu me emocionei com um personagem de gibi. Foi muito triste.
X-Men #22 e #23
Uma das idéias mais bem boladas das Hqs, ilustrada eximiamente em um estilo detalhista, a Saga dos X-Men e o Novos Mutantes em Asgard é na minha opinião a obra prima dessa X-equipe. Só pelo fato de ver as marginalizadas equipes mutantes em um confronto direto com os arrogantes deuses nórdicos (e se dando bem), já é motivo o suficiente para prestigiar a obra, mas o que mais me impactou foram os desenhos. Acostumado com as sombras largas e poucos detalhes da maioria dos desenhistas, contemplar aquela chuva ordenada de risquinhos por toda a página, e sem criar um aspecto “sujo”, foi tão espantoso pra mim como foi anos antes quando eu abri um exemplar da Divina Comédia e encontrei as gravuras de Gustave Doré. Eu me lembro que lotei dois cadernos de desenho inteiros copiando, copiando e copiando a arte de Arthur Adams. Quando eu terminei, comecei a adaptar outros personagens para aquele impressionate “estilo de tracinhos”. =)
Como é gostoso quando encontramos algo que nos toma. Sem dúvida as obras desses dois me acrescentaram algo além do lazer. Por dentro e por fora.
26 de janeiro de 2011 às 08:42
Gostei muito desse post, porém a dupla "Chris Claremont e John Byrne" merece ser citada, não?
Abraço!
26 de janeiro de 2011 às 15:14
Oi Marcio! Merece muito. Chris e John foram "A dupla". E vc não sabe como fico sentido por não poder colocar tantos outros X-Gigantes que eu tbm admiro muito, como o Marc Silvestri, Walter Simonson ou Barry Windsor-Smith por exemplo. Eu precisei resumir e dar destaque aos que tiveram maior impacto pessoal.
Valeu, brother! =)