Semana do Quadrinho Nacional
Eles são: Earl Norem, Roy Thomas, John Buscema e Alfredo Alcala
“Conan aprendeu que os chamados “civilizados” possuem um gênio apurado para declarar o óbvio. Todavia, o bárbaro é tolerante com essas idiossincrasias e faz tudo o que pode para ignorá-las, afinal de contas, a vida é por demais efêmera para que um homem se preocupe com suas insignificâncias. Na realidade a verdadeira batalha de hoje ainda está para ser travada e não será com os imbecis e mal-remunerados guardas de Zíngara, mas sim com o mar!”
- Michael Fleisher – O Templo da Criatura de Doze Olhos - A Espada Selvagem de Conan #69
- Michael Fleisher – O Templo da Criatura de Doze Olhos - A Espada Selvagem de Conan #69
Nas antigas HQs de super-heróis era quase um clichê ter na primeira página uma única imagem bem envolvente que iniciava a história. Se você entrasse em uma banca de jornal e abrisse qualquer título do gênero “heróis”, a chamada splash page certamente mostraria o personagem principal em uma pose triunfante. Talvez ele estaria voando, saltando ou enfrentando algum inimigo. Normalmente eram essas HQs que eu lia. Até que um dia caiu na minha mão uma revista “formato adulto” com o título Conan, o indomável. Era uma Graphic Marvel assinada por John Buscema e Roy Thomas. Em um pequeno quadro azul no canto inferior da capa, uma mensagem dizia: “A leitura divertida”. Eu pensei: “Parece promissor”.
Abri então na primeira página e tive uma grande surpresa. Eu não encontrei a famosa cena triunfal que esperava. No lugar dela, um homem bêbado com o rosto coberto estava sendo jogado de dentro de uma taverna na direção de uma sarjeta. Um dos rapazes que o atirou gritava: “Fora com você, cão!” =D Virando a página eu percebi que esse “cão” era o próprio Conan, o indomável. Depois disso ele permaneceu na sarjeta gemendo até que um personagem de capa aproximou-se e o levantou com uma mão e o arremessou contra a parede, fazendo-o desmaiar. Quando ele acordou na manhã seguinte, foi surpreendido por um trombadinha que lhe roubou a bolsa de moedas. Ei, ei! Espera aí! Não era pra ele ser o herói? Mas adiante Conan se envolveria por acaso em um esquema de conspiração contra um Rei, levando-o a situações que eu jamais imaginaria, a julgar pelo começo da história. Isso foi surpreendente. Tão surpreendente que fui atrás de outros números da revista para acompanhar mais histórias como essas. Depois de conseguir algumas edições com o jornaleiro e outras nos sebos, eu olhei para a minha coleção de X-Men e decidi fazer uma coisa que mais tarde eu me arrependeria. Queria tanto ter outros números da revista do bárbaro, que peguei os X-Men, levei para o sebinho e troquei tudo por Conan. =P
Por que eu fiz isso? 4 Motivos.
1- Earl Norem: Uma diferença entre as revistas do Conan para as outras estava no formato, o dobro do tamanho. Era como comparar a capa de um CD com a arte de um disco de vinil. E as capas do Conan eram verdadeiras belas artes, ao contrário das capas comuns das outras Hqs, feitas na mesma qualidade da arte interna. Eram imagens realistas feitas por grandes pintores como Boris Vallejo, Joe Jusko e Frank Frazetta. Mas as capas que mais me impressionaram e caracterizavam com exatidão o “espírito Conan” eram as de Norem. Eram realistas mas não foto-realisticas. Transmitiam a essência do gênero “capa e espada” com toda riqueza de detalhes e beleza necessária.
2- Roy Thomas: Muitas histórias do cimério eram adaptações dos contos originais escritos por Robert E. Howard. Por isso o roteirista mantinha nas cenas quadros com a “voz do narrador”. Frases como aquela que eu anexei no começo estavam sempre presente conferindo mais drama e poesia à narrativa. Assim como outros escritores, Roy se valia de adjetivos rebuscados e monólogos internos para criar um ambiente imersivo no roteiro, passando uma impressão ao leitor de que ele estava lendo literatura. Aliás, um interessante paradoxo sobre as obras de Conan é que apesar dele ser um Bárbaro, suas histórias estão sempre cercadas de belos textos de teor lírico e filosófico. Não é de se estranhar que a primeira produção cinematográfica do personagem apresentou uma frase de Friedrich Nietzsche na abertura do filme.
3- John Buscema: Considerados por muitos como o melhor desenhista de anatomia das Hqs, John desenhou grande parte das histórias e certamente as principais, criando o esteriótipo que caracterizaria Conan para sempre. Olhar frio, nariz achatado, queixo quadrado e a clássica franjinha reta no cabelo preto escorrido. Sua arte fluía entre os quadros, criando sequências perfeitamente dinâmicas e emocionantes. Dias depois de ler as histórias eu tinha a impressão de tê-las assistido em um filme.
4- Alfredo Alcala: Se tempos atrás eu me impressionara com os traços de Art Adams por lembrarem as gravures de Doré, quando eu vi pela primeira vez a arte-final de Alcala eu pensei com o queixo caído: “Isso existe”! Existem HQs ilustradas com a mesma maestria dos artistas clássicos. A tinta de Alcala sobre as formas de Buscema é o tipo de coisa que DEVERIA estar em um Louvre. Ainda hoje eu tenho as edições arte-finalizadas por ele separadas da coleção em um lugar especial onde eu me sento para desfrutar delas como um enófilo faria com um Château Haunt-Brion 1966. Confira um exemplo aqui.
Sem dúvida eu tinha feito ótimas aquisições comprando as “Espadas Selvagens de Conan”, mas pobres X-Men... mais um episódio de discriminação contra a raça mutante. =)
26 de janeiro de 2011 às 08:27
Muito bom, parabéns!
Quatro "ótimos" motivos... hehehe!
Assino embaixo!!!
26 de janeiro de 2011 às 15:16
Muito obrigado, Marcio! ;)