Castro Alves

14 de abr. de 2011 Postado por Fernando
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NA HORA em que a terra dorme
Enrolada em frios véus,

Eu ouço uma reza enorme

Enchendo o abismo dos céus...


Acendem-se os bentos círios

Dos vaga-lumes sutis!

"Ave!" murmuram os lírios,

"Ave!" dizem os covis!


Nos boqueirões há soluços...

Tem remorso o vendaval...

O mar se atira de bruços,

Co'as barbas pelo areal.


As nuvens ajoelhadas

Nos claustros ermos e vãos,

Passam as contas doiradas

Das estrelas pelas mãos.


A açucena, por criança,

Junta os dedos... reza e ri!

A palmeira larga a trança...

Reza nua como a huri.


A ventania que emboca

Pela serra colossal

É o organista que toca
Nos sifões da catedral.

Que fanatismos divinos

Nas lapas do campo alvar!

Da onça os olhos felinos

Dizem rezas ao luar.


Há luzes fosforescentes

Acesas pelos marnéis...

São as larvas penitentes

Rezando pelos fiéis.


Monstro e anjo a noite grupa

No pedestal da oração...

Quem sabe se a catadupa

Bate nos peitos do chão?


Pelo cipó solitário

Gota a gota o orvalno cai

Como as bagas do rosário

De filha que chora o pai.


Reza tudo que tem boca

Cheia de graça ou terror...

O ninho — junto da toca!

A cratera ao pé da flor!


Só enquanto a reza enorme

Reboa pela amplidão...

Como Ló... o Homem dorme

No colo da criação!!!


- Castro Alves - Reza


Fonte: jornaldepoesia.jor.br

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